sexta-feira, 5 de março de 2010

Andança


Lá se vão apressados dois meses do ano, ainda novo, mas cheio de histórias pra contar. Pensando no tempo que passou, constatei que há muito não escrevo e senti-me movida a justificar minha ausência, por estar andando pela vida, pelos meus caminhos, por entre as pessoas, enfim, nos lugares onde a vida acontece. Entendi que por mais que nos fechemos tentando restringir nossos dias à perfeição de nossos planos, pensamentos e sonhos, a vida vai acontecendo quase sempre à revelia de nossas expectativas porque é lá fora onde estão as pessoas que ela se dá, mesmo para quem teima em viver só. Então, senti que não posso querer ser uma ilha.

Vi um ano começar com intrepidez; vi pessoas tendo seus sonhos sacudidos pela fúria da natureza; vi valentes soterrados, renascerem cheios de vontade de viver, após longo diálogo com a morte; vi gente sem nada, perder tudo e ainda assim ficar com saldo positivo em esperança e isso me fez questionar meus parcos conhecimentos matemáticos e obviamente duvidar da lógica.

Vi águas furiosas arrastarem sonhos, terras afoitas sufocarem futuros, privando de sonhar quem já vivia o pesadelo de ser gente humilde e isso me fez ver que poder olhar não é mera obra do acaso, mas é minha oportunidade de ser luz para quem nada pode ver diante de si.

Vi que o desespero é capaz de suscitar o pouco de humanidade que há em nós, mas que em meio ao caos ainda há quem seja cruelmente oportunista, mas ainda assim, somos todos irmãos.

Tão pouco tempo e tanto por ver, vi pessoas me olharem com indiferença enquanto me estendiam a mão e outras me sorrirem com doçura ao me ferir o coração... é, vi mais do que queria, ouvi o que não devia, mas não desisti de ver e ouvir. Vi pessoas ficarem sem nada e ainda assim mostrarem muito mais vontade de viver, enquanto pessoas com muita escolha se furtavam da beleza que é estar vivo e do poder que têm de fazer outras pessoas felizes. Não vi muito sentido nisso, mas compreendi que não vale à pena existir somente, sem ter um sentido na vida.

‘Cheguei, vi, venci’ e não deixei de aprender que a vida é dura, mas pode ser bela; que somos todos iguais, mas pensamos tão diferente; que as dificuldades são superadas com amor e fé e que Deus é pai de todos nós, logo, há muito a aprendermos sobre nossa condição de irmãos...

Foi muito o que vi, mas não desisti de ver, como disse o sábio Salomão: “Tudo é penoso, difícil de o homem explicar. A vista não se cansa de ver, nem o ouvido se farta de ouvir.” (Eclesiates 1.8). É por isso que não posso parar de andar, não devo desistir de ver e preciso lançar mão do poder de agir e quem sabe, fazer alguma coisa diferente acontecer...